sexta-feira, 19 de julho de 2019

A corrida da justiça

 "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.
Não existe forma mais eficiente de atrair para si a ira de alunos do que agir de forma que lhes aparente ser injusta. Assim constatamos o quanto a própria Lei Natural infunde nos jovens o desejo pela justiça. Partindo da ideia de que vício chama vício e virtude chama virtude, vemos que tal desejo de justiça é uma oportunidade para despertar a sede por outras virtudes e afastar vícios, contribuindo assim para uma verdadeira educação cristã. Há de se ter, entretanto, cuidado para não confundir a justiça com mera aparência de justiça, sem o que surgem grandes riscos.
 As ideologias que tanto mal trouxeram à humanidade em tempos recentes promoveram-se apoiadas em uma aparência de justiça. Vejamos alguns exemplos:
         * O socialismo se apresentou como remédio para a injustiça social. Provou-se, entretanto, um remédio amaríssimo ao massacrar aproximadamente cem milhões daqueles que pretendia curar.
           * A revolução sexual vendia sua própria imagem como caminho para devolver a autonomia aos "oprimidos" e, por outro lado, passava a moral cristã como instrumento que aprisionava injustamente os indivíduos contra a sua vontade. Mas no lugar de liberdade, a revolução trouxe famílias quebradas, a promoção do infanticídio como um direito e a mentalidade antinatalista.
         *O secularismo argumenta que um indivíduo não poderia ser constrangido por questões de fé e moral reveladas ou por um credo que não professa. A aparente justiça é desmascarada, entretanto, uma vez que o secularismo, representando falsamente o povo, aprova leis contrárias aos valores e sentimentos do povo. Este não se torna mais livre para pensar, mas sim escravo do projeto político secular dominante do momento, na lacuna dos princípios e virtudes da moral cristã.
 

A VERDADEIRA JUSTIÇA
Para evitar tais armadilhas, convém entender melhor o que é e como discernir aquilo que de fato podemos chamar de justiça. O jurista romano Ulpiano (150-230) assim definia: “Justitia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi” (Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu).  O Catecismo da Igreja Católica, no número 1807, ensina que " A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se «virtude da religião». Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum."
     Não por acaso vemos o mesmo princípio aplicado a Deus e aos homens. Ao examinarmos nossos próprios espíritos sob a luz da Lei Divina, vemos a injustiça que está em nós, com frequência pondo no lugar de Deus trivialidades. O equilíbrio de uma verdadeira vida cristã é o solo fértil onde pode crescer a verdadeira justiça. Não cumpre plenamente a justiça quem quer ser justo para com os homens sem o ser também para com Deus. Na Lei Positiva Divina, que se revela nas Sagradas Escrituras, encontramos o verdadeiro modelo de justiça, capaz de nos defender das falsas promessas de justiça e nos alcançar a harmonia de que fala o Catecismo.


Daniel Sorem

Nenhum comentário:

Postar um comentário