"Bem-aventurados os que têm fome e sede
de justiça, porque serão saciados”.
Não existe forma mais eficiente de atrair para
si a ira de alunos do que agir de forma que lhes aparente ser injusta. Assim
constatamos o quanto a própria Lei Natural infunde nos jovens o desejo pela
justiça. Partindo da ideia de que vício chama vício e
virtude chama virtude, vemos que tal desejo de justiça é uma oportunidade para
despertar a sede por outras virtudes e afastar vícios, contribuindo assim para
uma verdadeira educação cristã. Há de se ter, entretanto, cuidado para não
confundir a justiça com mera aparência de justiça, sem o que surgem grandes
riscos.
As
ideologias que tanto mal trouxeram à humanidade em tempos recentes
promoveram-se apoiadas em uma aparência de justiça. Vejamos alguns exemplos:
* O socialismo se
apresentou como remédio para a injustiça social. Provou-se, entretanto, um remédio amaríssimo ao massacrar aproximadamente cem milhões daqueles que pretendia curar.
* A revolução sexual vendia sua própria imagem
como caminho para devolver a autonomia aos "oprimidos" e, por outro
lado, passava a moral cristã como instrumento que aprisionava injustamente os
indivíduos contra a sua vontade. Mas no lugar de liberdade, a revolução trouxe
famílias quebradas, a promoção do infanticídio como um direito e a mentalidade
antinatalista.
*O secularismo argumenta que um indivíduo não
poderia ser constrangido por questões de fé e moral reveladas ou por um credo
que não professa. A aparente justiça é desmascarada, entretanto, uma vez que o
secularismo, representando falsamente o povo, aprova leis contrárias aos
valores e sentimentos do povo. Este não se torna mais livre para pensar, mas
sim escravo do projeto político secular dominante do momento, na lacuna dos
princípios e virtudes da moral cristã.
A VERDADEIRA JUSTIÇA
Para evitar tais armadilhas, convém entender
melhor o que é e como discernir aquilo que de fato podemos chamar de justiça. O
jurista romano Ulpiano (150-230) assim definia: “Justitia est constans et
perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi” (Justiça é a constante e firme
vontade de dar a cada um o que é seu). O Catecismo da Igreja Católica, no
número 1807, ensina que " A justiça é a virtude moral que consiste na
constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A
justiça para com Deus chama-se «virtude da religião». Para com os homens, a
justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações
humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem
comum."
Não por acaso vemos o mesmo princípio aplicado
a Deus e aos homens. Ao examinarmos nossos próprios espíritos sob a luz da Lei
Divina, vemos a injustiça que está em nós, com frequência pondo no lugar de
Deus trivialidades. O equilíbrio de uma verdadeira vida cristã é o solo fértil
onde pode crescer a verdadeira justiça. Não cumpre plenamente a justiça quem
quer ser justo para com os homens sem o ser também para com Deus. Na Lei
Positiva Divina, que se revela nas Sagradas Escrituras, encontramos o
verdadeiro modelo de justiça, capaz de nos defender das falsas promessas de
justiça e nos alcançar a harmonia de que fala o Catecismo.
Daniel Sorem
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