sexta-feira, 19 de julho de 2019

A corrida da justiça

 "Bem-aventurados os que têm fome e sede de justiça, porque serão saciados”.
Não existe forma mais eficiente de atrair para si a ira de alunos do que agir de forma que lhes aparente ser injusta. Assim constatamos o quanto a própria Lei Natural infunde nos jovens o desejo pela justiça. Partindo da ideia de que vício chama vício e virtude chama virtude, vemos que tal desejo de justiça é uma oportunidade para despertar a sede por outras virtudes e afastar vícios, contribuindo assim para uma verdadeira educação cristã. Há de se ter, entretanto, cuidado para não confundir a justiça com mera aparência de justiça, sem o que surgem grandes riscos.
 As ideologias que tanto mal trouxeram à humanidade em tempos recentes promoveram-se apoiadas em uma aparência de justiça. Vejamos alguns exemplos:
         * O socialismo se apresentou como remédio para a injustiça social. Provou-se, entretanto, um remédio amaríssimo ao massacrar aproximadamente cem milhões daqueles que pretendia curar.
           * A revolução sexual vendia sua própria imagem como caminho para devolver a autonomia aos "oprimidos" e, por outro lado, passava a moral cristã como instrumento que aprisionava injustamente os indivíduos contra a sua vontade. Mas no lugar de liberdade, a revolução trouxe famílias quebradas, a promoção do infanticídio como um direito e a mentalidade antinatalista.
         *O secularismo argumenta que um indivíduo não poderia ser constrangido por questões de fé e moral reveladas ou por um credo que não professa. A aparente justiça é desmascarada, entretanto, uma vez que o secularismo, representando falsamente o povo, aprova leis contrárias aos valores e sentimentos do povo. Este não se torna mais livre para pensar, mas sim escravo do projeto político secular dominante do momento, na lacuna dos princípios e virtudes da moral cristã.
 

A VERDADEIRA JUSTIÇA
Para evitar tais armadilhas, convém entender melhor o que é e como discernir aquilo que de fato podemos chamar de justiça. O jurista romano Ulpiano (150-230) assim definia: “Justitia est constans et perpetua voluntas jus suum cuique tribuendi” (Justiça é a constante e firme vontade de dar a cada um o que é seu).  O Catecismo da Igreja Católica, no número 1807, ensina que " A justiça é a virtude moral que consiste na constante e firme vontade de dar a Deus e ao próximo o que lhes é devido. A justiça para com Deus chama-se «virtude da religião». Para com os homens, a justiça leva a respeitar os direitos de cada qual e a estabelecer, nas relações humanas, a harmonia que promove a equidade em relação às pessoas e ao bem comum."
     Não por acaso vemos o mesmo princípio aplicado a Deus e aos homens. Ao examinarmos nossos próprios espíritos sob a luz da Lei Divina, vemos a injustiça que está em nós, com frequência pondo no lugar de Deus trivialidades. O equilíbrio de uma verdadeira vida cristã é o solo fértil onde pode crescer a verdadeira justiça. Não cumpre plenamente a justiça quem quer ser justo para com os homens sem o ser também para com Deus. Na Lei Positiva Divina, que se revela nas Sagradas Escrituras, encontramos o verdadeiro modelo de justiça, capaz de nos defender das falsas promessas de justiça e nos alcançar a harmonia de que fala o Catecismo.


Daniel Sorem

Virtudes: capacidades socioemocionais na escola


Diante do retrato atual dos espaços educativos, particularmente, família e escolas, com desperdício imenso de energias para se resolverem problemas que são estruturais, nos perguntamos como mudar o desrespeito verbal e gestual nesses espaços. Quem não ouviu falar das agressões psicológicas, físicas e morais e do desinteresse pela aprendizagem? De pessoas inteligentíssimas, mas fragilizadas e desiquilibradas emocionalmente? Há muitas famílias que transferem para a escola a responsabilidade de educar seus filhos e há escolas que se posicionam afirmando que a instrução cabe a ela, mas a educação cabe à família. É preciso que os educadores enfrentem esse desafio buscando dar uma resposta alternativa a esse retrato atual, rompendo com um círculo vicioso de transferências de responsabilidades.
Infelizmente não é raro ouvir de pais “não sei mais o que fazer com meus filhos”. Essas palavras soam como um grito muitas vezes tão próximo de nós. Também se torna cada vez mais frequente ouvir de educadores em instituições de ensino essas mesmas palavras agora aplicadas aos alunos. Somos desafiados a buscar uma resposta que esteja ao alcance de todos. No fundo, essas palavras traduzem um anseio do coração humano, profundamente infeliz, com sede de vida verdadeiramente feliz.
Há certa de sete anos, tive oportunidade de conhecer um educador apaixonado e comprometido com uma resposta alternativa aos desafios atuais da educação, oferecendo uma educação personalizada a partir das escolas integradas às famílias e com outros grupos de convivência social. Seu nome é João Malheiro, doutor em educação e consultor educacional, criador do Projeto Virtudes, que sucintamente passo a expor.
O Projeto Virtudes nasce como resposta às exigências do coração humano de integrar a pessoa humana consigo mesma e com as outras, seja na família e em pequenos grupos de amizade, seja na escola ou em círculos maiores de convivência social. Esse projeto consiste em oferecer de forma teórico-prática uma formação das capacidades socioemocionais (de virtudes) das crianças e adolescentes, desde os primeiros anos até a conclusão do Ensino Fundamental, de forma sistemática. Parte da premissa de que a pessoa humana possui inteligência (responsável pelo conhecimento e raciocínio - razão teórica e razão prática) e vontade (composta de paixões/emoções, sentimentos e gosto, que chamamos afetividade – razão emocional). Uma educação que se propõe ser integral precisa alcançar esses três tipos de inteligência – a teórica, a prática e a emocional, buscando estimular não só a parte cognitiva do aluno, mas também as qualidades socioemocionais.
Embasado na dinâmica das virtudes segundo S. Tomás de Aquino, com objetivo de se atingir a maturidade da pessoa humana, o projeto está pedagogicamente estruturado da seguinte forma: do 1º aos 7 anos de idade é trabalhado o controle dos impulsos e desejos pelos outros (Temperança – limite no prazer); dos 7 aos 14 anos é trabalhado o domínio do medo de enfrentar o que custa pelos outros (Fortaleza – aguentar/enfrentar); dos 15 aos 16 anos trabalha-se o sair de si mesmo (Justiça – amizade); e dos 17 aos 18 anos trabalha-se o refletir, julgar e decidir (Prudência – pensar antes). Com essa formação o aluno é levado a aprender e vivenciar no dia a dia os bons hábitos e os valores que, aos poucos, deverão prevalecer e se consolidar na sua vida.
Pe. Pedro Paulo de Carvalho Rosa

"A favor" e "contra" na educação


Sem ser simplesmente “do contra” ou ser “concordino”, é preciso muitas vezes definir-se entre uma ou outra posição, sem medo de desagradar ou perder o “eleitorado”, pois o nosso compromisso deve ser somente com a verdade.
Sendo assim, colocando as cartas na mesa, lá vão as minhas simples opiniões, as quais, como  não sou fanático, poderão ser modificadas, caso me provem o contrário.
Sou a favor da escola disciplinada e sou contra a escola repressiva.
Sou a favor de uma educação atualizada, que adapta os valores perenes às circunstâncias presentes, e contra uma educação modernizada, que rejeita os valores tradicionais.
Sou a favor do ensino participativo, mas sou contra o ensino relativista, composto apenas de pesquisas de opinião.
Sou a favor da escola que mantém a autoridade e sou contra a escola absolutista e despótica.
Sou a favor da hierarquia e contra a anarquia.
Sou a favor da participação dos pais na escola e contra a ingerência deles na alçada administrativa escolar.
Sou a favor do professor amigo e paterno e contra o professor piegas e paternalista.
Sou a favor do professor-mestre e contra o professor-aluno.
Sou a favor da compreensão e humildade do mestre e contra o seu nivelamento e rebaixamento.
Sou a favor do aluno ativo e esperto e contra o aluno ativo e revolucionário.
Sou a favor da memorização  e contra a “decoreba”.
Sou a favor do rigor e da correção e contra o rigorismo.
Sou a favor da liberdade e contra a libertinagem.
Sou a favor da educação sexual individual e familiar e contra e educação sexual coletiva.
Sou a favor da educação sexual preventiva e orientadora e contra a meramente informativa e, por isso, aliciante da curiosidade.
Sou a favor do computador e contra o excesso do “video-game”.      
Sou a favor da espontaneidade e contra a bagunça e a desordem.
Sou a favor da obediência e contra a subserviência.
Sou a favor da convicção e contra a mera imposição.
Sou a favor da música e contra o barulho (mesmo quando o chamam de música).
Sou a favor do esporte e contra o culto do corpo.
Sou a favor da linguagem correta e contra o pedantismo.
Sou a favor da liberdade e contra o modismo.
Sou a favor da moral e contra o moralismo.
Sou a favor criança-criança e contra a criança-adulto.
Sou a favor da emulação e contra a premiação dos relaxados.
Sou a favor da tradição e do progresso e contra o amor ao antigo por ser antigo e do novo por ser novo.
Sou a favor da ética e do espírito corporativista e contra a formação de cartel e da máfia.
Sou a favor do Estado e contra “estatolatria”.
Sou a favor da abertura de mercado mas contra o mercantilismo.
Sou a favor da política mas contra a politicagem.
Sou a favor da harmonia social mas contra a luta de classes.
Sou a favor da informação mas contra a massificação.
Sou a favor do ideal mas contra as ideias fixas.
Sou a favor do heroísmo mas contra o fanatismo.
Que os nossos Educadores sejam a favor da correta linha da Educação.

Dom Fernando Arêas Rifan 
Bispo da Administração Apostólica Pessoal São João Maria Vianneyclique aqui

Editoral (nº 6, ano 3, 2019).


Dando início ao novo ano do Jornal Educare, queremos rememorar a nossa vocação de educadores que buscam uma vida exemplar na verdade e no bem.

Esta sexta edição, com as bênçãos de Deus, vem estimular a busca da formação das VIRTUDES em nossa nobre missão de educar e evangelizar.

“Sede perfeitos como vosso Pai do Céu é perfeito”! (Mt. 5,48). A Igreja, Mãe e Educadora, nos ensina a vivência das virtudes, orientando-nos para que desenvolvamos em nós atitudes seguras, hábitos positivos e uma paixão pela verdade e pelo bem.

Deus, com a sua graça e infinita bondade, infunde em nós as Virtudes Teologais (Fé, Esperança e Caridade) e as Virtudes Cardeais ou Morais. Com esse auxílio divino, atingimos seguramente a LUZ e a proximidade de Deus. Os dons teologais corroboram e vivificam em nós todas as Virtudes Morais: prudência, justiça, temperança e fortaleza.

O Papa Francisco no seu livro “Educar: exigência a paixão”, p.22, Ed. Ave Maria, aconselha aos educadores: “Como é grande a tarefa que Jesus coloca em nossas mãos. Cultivem sua personalidade, transmitam com seu ser um estilo, uma certeza. Não se entreguem à tentação de fracionar a verdade.

Que os pais e mães não duvidem das capacidades dos alunos, nivelando por baixo, por meio do consenso negociador, do pacto demagógico, permitindo o cotidiano ‘relaxado’. Que ensinem o amor de Jesus Cristo a seus filhos. Mostrem o esplendor da verdade que aparece para aquele que sabe ver, emergindo de cada canto da natureza ou das obras dos homens. Passem ideias iluminadas para que, de posse delas, orientem os jovens e as crianças pelos campos da vida. Ajudem a criar laços e vínculos com pessoas, ideias e lugares, porque o crescimento vem com a criação de pertenças”.

O fogo que acendemos na celebração da Páscoa representa a Luz de Cristo e é a chama que deve permanecer acesa em nossos corações, dia após dia. Que possamos ser sempre sal da terra e luz do mundo, espargindo com nosso exemplo e nosso trabalho o suave odor das virtudes cristãs!

Que Deus abençoe a todos os nossos educadores e alunos para que pratiquemos as virtudes e assim, sendo bons cristãos e bons cidadãos, alcancemos um dia a glória do céu.

Pe. Silvano Salvatte Zanon
Assessor Eclesiástico da Pastoral da Educação

A Pedagogia Católica



            As coincidências essenciais e os pontos em que se convergem às diferentes Pedagogias contemporâneas, são muitos. Eles se levantam sobre uma considerável ampliação de conceitos da Educação, embora possuam enfoques próprios. É evidente que a Pedagogia tem um campo específico de trabalho, um objeto que lhe corresponde, tomada em seu sentido mais amplo, começa na família e continua na Escola.
            Convivemos até agora com a expressão “crise da Escola”. Atualmente não seria mais próprio “crise na Escola”? A crise se instala na medida em que a clientela leva à Escola suas orientações definidas ou suas desorientações, obrigando a instituição a trabalhar de modo diferente, através de enfoques Sociológico e Culturalista.
            A responsabilidade do educador de hoje é enorme! Uma educação adaptada ao nosso tempo exige dele vocação e competência profissional. Uma sociedade justa passa pela educação de qualidade iluminada pela Pedagogia Católica.
Ela se inicia no contexto da “família estruturada”. É o amor paterno e materno principal terreno que dá às meninas e aos meninos o alimento humano, moral, psicológico, religioso e cultural, que lhes permitem crescer. A família é uma comunidade que não exclui ninguém. Mas é o primeiro veículo de conhecimento do mundo, construindo valores, juízos, concepções e ideologias.
A família deve rezar sempre unida, para ganhar com o tempo, uma alma grande, feita de ternura, perdão, compreensão e amor a Deus. Os filhos aprendem a comportar-se como cidadãos autênticos olhando para os pais. A oração, o catecismo, as obras de caridade, tudo isso muitos Santos aprenderam dos pais, como o filho de “mamãe Margarita” e daí dos seus joelhos, nasceu o “Método Educativo Dom Bosco”.
Não podemos nos esquecer do brinquedo, do lazer, do pátio e da recreação que têm uma importância vital – tanto no âmbito da família, como no da Escola.  O resultado é ainda mais positivo quando o educador brinca com seus educandos. Na atmosfera familiar não podem faltar expressões como: eu o/a amo; tenho confiança em você; estou feliz por ter você; como é bom estarmos juntos!
Os pontos de referência são necessários a esta geração sem bússola, apesar do famoso “GPS”, porque a incoerência de algumas ideologias e a perda da influência da Igreja precipitam a sociedade num profundo relativismo. Há, porém um tripé infalível que são a alegria, o estudo e a piedade, para que tudo flua bem e os jovens se realizem.
D. Bosco dizia que a construção de uma pessoa autônoma e responsável reclama encargos pequenos e médios aos jovens. Eles devem ser encorajados pelos pais e mestres a enfrentar riscos, tomar decisões condizentes com a sua idade. É preciso fazer crescer a estima recíproca, lembrar-se de que o louvor é sempre mais eficaz que a crítica. Em última análise, entusiasmá-los para a vida. É bem verdade que cada um tem seu tipo de caráter, com qualidades e defeitos próprios, por isso o tratamento diferenciado se faz necessário. É preciso investir na formação dos adolescentes, voltados para o futuro, cultivar seus sonhos e ilusões; conduzi-los, por vezes, ao realismo, mas, dando asas à sua imaginação, pois não são adultos em miniatura. Já dizia um grande Salesiano com simplicidade: “Os meninos são como pardais, na gaiola, morrem.”
O diálogo é primordial principalmente com os jovens e adolescentes. Evitar-lhes o ócio, apontar metas para eles. Dar-lhe o bom exemplo, criar para eles ambientes construtivos, oportunizar-lhes o sucesso, porém sem faltar a repreensão necessária que deve ser imediata, justa e coerente.
O otimismo deve ser alimentado. O princípio da entropia [não seria entalpia] é válido também para as relações humanas, a boa amizade, por exemplo, é marcante.
O “Monitor do Professor”, da autoria do Exmo. Sr. Bispo Dom Fernando Arêas Rifan, nosso Administrador Apostólico, insiste com os pais e professores sobre a importância de formar nas crianças e jovens convicções; dar-lhes a noção exata de pecado, formar sua vontade, para que sejam  jovens santos e suas vidas promissoras.
Enfim, a Educação Familiar é a base da formação dos jovens que deve continuar na Escola. É o resultado da interação entre os dois polos ativos: pais e filhos. É o caminho do respeito à pessoa e sua liberdade, sobretudo seus ritmos de crescimento e maturação. Esse é o caminho trilhado pela Pedagogia Católica, tendo em vista a verdadeira felicidade.
Profª Maria Lúcia Viceconte de Abreu

“Donde vem o joio?”


O joio semeado no meio do trigo
A cizânia semeada no meio do trigo
[Levemente adaptado do texto da aula “ Quem é o joio dentro da Igreja? ”,
conclusão do curso sobre a Igreja e o mundo moderno.]




Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a Igreja Católica com um propósito docente irrenunciável: ela é, segundo uma expressão que já se tornou clássica, Mater et Magistra — Mãe e Mestra, encarregada de transmitir a todos os povos o Evangelho de seu divino Fundador, gerando para si filhos na ordem da graça e dirigindo-os, à luz das verdades da fé, ao fim sobrenatural a que Deus os elevou: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações; batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar tudo o que vos prescrevi” ( Mt 28, 19s).
Ao longo dos últimos séculos, porém, a Igreja foi deixando paulatinamente de exercer de modo pleno este seu ofício pedagógico: de um ambiente impregnado de santidade e amor à verdade, defendida com não menos firmeza que ardor, passamos para um mundo obcecado pela eficácia dos novos sistemas financeiros e embriagado de relativismo, ingrediente indispensável ao “caldo” cultural em que vivemos hoje”.
Apesar de grave, este panorama não deve fazer-nos pensar que não haja remédio, pois temos a certeza de que Nosso Senhor nunca abandonará sua Esposa: “Eis que estou convosco todos os dias, até o fim do mundo” ( Mt 28, 20), prometeu Ele pouco antes de subir aos céus, donde nos assiste e faz nascer sempre no seio da Igreja pessoas fiéis aos seus ensinamentos e empenhadas em transmiti-los a todos.
As próprias autoridades eclesiásticas, naturalmente, são conscientes da situação em que nos encontramos, como atestam os inúmeros documentos magisteriais das últimas décadas, das quais é possível citar, a título de exemplo, a Encíclica “ Divini Illius Magistri ”, de Pio XI, e a Exortação Apostólica “E vangelii Nuntiandi ”, de Paulo VI.
O alarmante do problema, no entanto, parece residir no fato de que o antídoto proposto pelos Pastores para as feridas causadas pela educação moderna não produz o efeito necessário. Poderíamos perguntar-lhes com a mesma perplexidade dos servidores da parábola: “Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?” ( Mt 13, 27).
Ora, esse joio que se tem disseminado pelos campos da Igreja representa, de acordo com Santo Tomás de Aquino, os católicos aparentes , isto é, aqueles que, embora se submetam aos legítimos Pastores deixados por Cristo e recebam os mesmos sacramentos por Ele instituídos, não possuem fé verdadeiramente católica, seja por causa da má formação que receberam, seja por causa do indiferentismo religioso que, sob o pretexto de um ecumenismo mal entendido, há décadas vem envenenando a alma de um sem número de sedizentes fiéis.
Esta soberba indiferença, um dos muitos efeitos da ditadura do relativismo , denunciada por Bento XVI, é como um dar de ombros para o brilhante exército de mártires que derramaram o sangue por fidelidade e amor ao Evangelho, que é único como una é a verdade e una é a fé de Cristo. É, numa palavra, lançar uma pá de cal sobre o projeto missionário e pedagógico da Igreja. Tudo isto, evidentemente, deve levar-nos, não a empunhar a espada dos juízos temerários, mas a perguntar-nos a nós mesmos, num sincero exame de consciência, se acaso não temos mais de joio que de trigo.
Confiantes na promessa do Salvador, que nos garantiu que estaria conosco todos os dias para fazer chegar aos povos a sã doutrina, sacudamos o fardo do indiferentismo que o mundo moderno, tão carente de verdade e sabedoria, tenta impor aos cristãos. Imploremos a Deus, que nunca pede o impossível e sempre dá o sustento necessário para cumprirmos o que nos manda, a graça de a Igreja, em seus Pastores e fiéis, recuperar o ânimo missionário e docente que sempre a impulsionou a atravessar mares, a enfrentar a hostilidade dos chefes das nações, a combater as falsas doutrinas e a empreender todos os esforços para que brilhe em todos os corações a luz da verdadeira fé.
Que a Virgem Santíssima, Mãe da Igreja e Rainha dos mártires, auxilie a cada um de nós, também chamados a levar às pessoas com quem vivemos e trabalhamos as palavras perenes (cf. Mt 24, 35) dAquele que é Cabeça da única Igreja, Santa, Católica, Apostólica e Romana.

Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior
Arquidiocese de Cuiabá

Relativismo, o joio corruptor


                A parábola de Jesus sobre o campo de plantação de trigo, no qual o inimigo semeou o joio (capim semelhante ao trigo), ajuda-nos a entender como muitas vezes o mal se mistura com o bem e toma a sua aparência para nos enganar, assim como o joio é parecido com o trigo. E confundir o joio com o trigo e altamente perigoso e pernicioso.
           A nossa vontade foi feita para querer o bem e só o bem pode atrai-la; a nossa inteligência foi feita para a verdade e só a verdade pode satisfaze-la. Por isso, o mal só engana porque tem a aparência de bem e a falsidade só engana porque tem a aparência de verdade. E mais. O mal e o erro são tanto mais perigosos quanto mais se parecem com o bem e a verdade. Como naquele exemplo da cadeira de quatro pernas em que falta uma: é ruim pela perna que lhe falta, mas é perigosa pelas três que tem, porque nos convida a nela nos sentarmos e cairmos. Se não tivesse nenhuma perna, não seria tão perigosa e nós nela não tentaríamos sentar.
            Assim acontece com o relativismo. Há coisas absolutas e coisas relativas. Mas generalizar o relativo e fazer dele uma teoria e uma norma de ação é uma ideologia falsa.   
            A verdadeira filosofia, ou concepção do mundo, ensina-nos que nós não somos a medida da verdade, mas somos medidos por ela. A verdade das coisas é objetiva, independente da opinião que tenhamos sobre ela. O relativismo é a negação de que existem certos tipos de verdades universais. O relativismo cognitivo nega as verdades universais objetivas, afirmando que existem apenas verdades pessoais, segundo o critério de cada um. O sofista grego Protágoras era o defensor dessa tese, da verdade relativa: “O homem é a medida de todas as coisas”, dizia ele. Isso é o relativismo cognitivo.
            O relativismo ético, que inclui o relativismo cultural, é a teoria de que não há princípios morais universalmente válidos. Segundo ele, todos os princípios morais são válidos relativamente à cultura ou à escolha individual. Caímos assim no subjetivismo e na relativização da verdade e da moral, que acabam nos conduzindo ao ceticismo, à dúvida generalizada, à descrença total de valores objetivos e universais.
            Assim caímos no relativismo teológico, aplicando o subjetivismo às verdades da Fé, que ficam sujeitas ao critério individual, sem objetividade.
A Congregação para a Doutrina da Fé, organismo da Igreja que defende a sã doutrina, inclui, entre os graves perigos atuais, o relativismo cultural, ao lado do pluralismo ético e a decadência e dissolução da razão e dos princípios da lei moral natural: “Reivindica-se a autonomia para as escolhas morais. Leis que prescindem dos princípios da ética natural, deixando-se levar exclusivamente pela condescendência com certas orientações culturais ou morais transitórias, como se todas as concepções possíveis da vida tivessem o mesmo valor. Tal concepção relativista do pluralismo nada tem a ver com a legítima liberdade dos cidadãos católicos de escolherem, entre as opiniões políticas compatíveis com a fé e a lei moral natural, a que, segundo o próprio critério, melhor se coaduna com as exigências do bem comum. A liberdade política não é nem pode ser fundada sobre a ideia relativista, segundo a qual, todas as concepções do bem do homem têm a mesma verdade e o mesmo valor” (Nota Doutrinal sobre algumas questões relativas à participação e comportamento dos católicos na vida política”).
Martinho Lutero (1483-1546), com a sua reforma protestante, lançou as bases do relativismo teológico, ensinando o “livre exame”, ou seja, a leitura e compreensão subjetiva das Sagradas Escrituras, independentemente do Magistério da Igreja, a quem Jesus confiou a sua guarda e interpretação.
René Descartes (1596-1650), filósofo e matemático francês, com o seu princípio da dúvida universal, destruindo a objetividade da verdade e buscando o conhecimento em si mesmo, é considerado um dos fundadores da Idade Moderna, cuja principal ideia é o subjetivismo, que conduz ao relativismo.
Mas a grande influência moderna geradora do relativismo encontramos em Immanuel Kant (1724-1804), que estabelece que as realidades devem ser consideradas apenas como fenômenos (objetos da experiência) e não como númenos (coisas em si mesmas). Com essa distinção, ele ensina que nunca podemos ver a realidade em si mesma, mas apenas sua manifestação em nossa maneira de percepção, através de diversas “lentes”. Ou seja, tudo o que é percebido por nós não é a genuína realidade, tal como ela é em si mesma, mas um seu reflexo segundo nossas medidas. Assim temos uma revolução copernicana entre o ensino filosófico correto aristotélico-tomista da objetividade da verdade e a subjetividade da verdade, base do relativismo.
“E a aceitação de que se dá de fato a verdade... é qualificada, (pelos propugnadores do relativismo), como fundamentalismo, como verdadeiro ataque contra o espírito dos tempos modernos e como ameaça fundamental, que se manifesta em muitas formas, contra o bem supremo, que é a tolerância e a liberdade. Desta maneira, o conceito de diálogo, que na tradição platônica e na tradição cristã tinha uma relevância importante, adquire em boa parte um significado modificado. É considerado precisamente como a quintessência do credo relativista e como antitético aos conceitos de ‘conversão’ e missão: o diálogo, segundo a compreensão relativista, significa pôr a própria posição ou a própria fé no mesmo nível que as convicções dos demais, não lhe conceder por princípio mais verdade que a posição do outro” (Ratzinger, Fé, Verdade e Tolerância).
Essa teoria relativista aplicada à filosofia conduz à igualdade de valor entre a verdade e o erro e ao ceticismo ou incerteza quanto à posse da verdade; aplicada à moral, à igualdade entre o bem e o mal, chegando ao relaxamento completo; e à teologia ao ceticismo e ao ateísmo.
Em nossas escolas católicas, esse joio do relativismo não pode crescer entre o trigo da boa doutrina.

Dom Fernando Arêas Rifan
Bispo da Administração Apostólica Pessoal
São João Maria Vianney

O papel da Escola Católica contra as ideologias


Três ideologias modernas, nos últimos duzentos anos, descristianizam, dessacralizam e expulsam do imaginário popular a noção de Deus, da transcendentalidade da vida, desumanizando a pessoa. Primeiro supervalorizaram o papel da razão para o conhecimento da verdade, negando a importância das tradições e da fé, depois desconstruíram a própria noção de verdade objetiva, de bem e de beleza, terminando por negar o próprio sujeito. São ideologias imanentistas, que acreditam na construção da sociedade perfeita, no paraíso terrestre, sem Deus. São elas: o liberalismo, o marxismo e o marcusianismo.
  O liberalismo, originário do Iluminismo e da Revolução Francesa, antirreligioso, laicista, destronou Deus e entronizou a razão, o homem como a divindade suprema. Fundado no lema "liberdade, igualdade e fraternidade" criou a democracia liberal, onde a política e o Estado assumiram o pretenso papel de redentores, de salvadores, parâmetros da verdade e da moralidade. O liberalismo construiu a "ditadura do relativismo", os subjetivismos modernos, relegando a verdade e o bem aos caprichos e aos juízos individualistas, interesseiros e utilitaristas.
O comunismo, criado por Marx e Engels, difundido em diversas vertentes, como o fabianismo e o gramscismo, criou a ideia da construção do paraíso na terra, um mundo igualitário, sem classes, controlado pela ditadura coletivista. A cultura comunista, fundada no materialismo histórico e na luta de classes, no coletivismo e na submissão das instituições ao Estado, tornou-se hegemônica, conquistou os corações e as mentes, pela via cultural, dominando as universidades, a educação e a mídia.
O marcusianismo, de Herbert Marcuse, teórico da Escola de Frankfurt, inspirado no pensamento de Marx, de Nietzsche e Freud, encontrou nas democracias liberais o espaço perfeito para a revolução, pela via da liberalização dos costumes, da revolução sexual, acampada pelos feminismos, pelo capital financeiro, pelos "progressistas", desconstruindo a moralidade cristã, grande pilar da civilização ocidental.
                A escola católica deve ser o lugar da desmistificação das ideologias, onde se reafirma o primado da fé e a importância da razão par o conhecimento da verdade, a transcendentalidade da vida e a necessidade da prática das virtudes para a construção da verdadeira cultura. Na escola católica os alunos devem aprender que a salvação vem pela Graça de Deus e não há política ou Estados redentores, que o paraíso terrestre é uma utopia e que a moralidade, fundada na Revelação e na Lei Natural, são os alicerces da verdadeira civilização. 

José Antônio de Faria                                                                                    
Professor Pós-Graduado em História

Editorial (nº5, ano 2, 2018)


CARÍSSIMOS EDUCADORES,
Ainda neste Ano Nacional do Laicato, por ocasião do Congresso sobre este tema, realizado na Igreja Principal de Nossa Administração Apostólica, nosso Jornal Educare, na sua quinta edição, tem a honra de apresentar a todos seus artigos em tornos de alguns males da Educação contemporânea e um convite para busca da solução.
A Igreja, ao exercer sua missão de ensinar, considera a Escola Católica um ambiente privilegiado para a formação integral dos alunos e oferece um serviço de suma importância para toda a sociedade. Contudo não ignora as múltiplas perplexidades e objeções que de diversas partes atingem a Escola Católica, que desafiam sua razão de ser e a sua finalidade cristãmente transcendental.
Essa problemática é vasta, envolve todas as instituições análogas na sociedade atual, caracterizada por transformações cada vez mais rápidas e profundas.
Muitos, dentro e fora da Igreja, levados por um sentido de laicidade mal entendido, atacam a Escola Católica, não admitindo que a Igreja nelas influencie, com o testemunho individual dos seus membros nas Escolas em geral, muito menos com o testemunho específico de suas próprias instituições com fins religiosos e confessionais, com a transmissão da fé católica em parceria natural com as família, além da investigação da verdade e do incentivo das obras de caridade cristã.
Essas premissas permitem indicar as tarefas e explicitar os conteúdos da Escola Católica, no esforço de fazer convergir a cultura e a fé na vida humana. Essa convergência opera-se mediante a integração dos diversos conteúdos do saber humano, especificados nas várias disciplinas, à luz da mensagem evangélica e através do desenvolvimento das virtudes que caracterizam o cristão.
            Conscientes da complexidade dos males da educação contemporânea, confiemos em Jesus Mestre que inspira, guia, sustenta e dirige a todos que têm a missão de educar. (Cf. SAGRADA CONGREGAÇÃO PARA A EDUCAÇÃO CATÓLICA - A ESCOLA CATÓLICA).
Pe. Silvano Salvatte Zanon
Assessor Eclesiástico da Pastoral da Educação