O joio semeado no meio do trigo
A cizânia semeada no meio do trigo
[Levemente adaptado do texto da aula “ Quem é o joio dentro da Igreja? ”,
conclusão do curso sobre a Igreja e o mundo moderno.]
Nosso Senhor Jesus Cristo instituiu a
Igreja Católica com um propósito docente irrenunciável: ela é, segundo uma
expressão que já se tornou clássica, Mater
et Magistra — Mãe e Mestra, encarregada de
transmitir a todos os povos o Evangelho de seu divino Fundador, gerando para si
filhos na ordem da graça e dirigindo-os, à luz das verdades da fé, ao fim
sobrenatural a que Deus os elevou: “Ide, pois, e ensinai a todas as nações;
batizai-as em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. Ensinai-as a observar
tudo o que vos prescrevi” ( Mt 28, 19s).
Ao longo dos últimos séculos, porém,
a Igreja foi deixando paulatinamente de exercer de modo pleno este seu ofício
pedagógico: de um ambiente impregnado de santidade e amor à verdade, defendida
com não menos firmeza que ardor, passamos para um mundo obcecado pela eficácia
dos novos sistemas financeiros e embriagado de relativismo, ingrediente
indispensável ao “caldo” cultural em que vivemos hoje”.
Apesar de grave, este panorama não
deve fazer-nos pensar que não haja remédio, pois temos a certeza de que Nosso
Senhor nunca abandonará sua Esposa: “Eis que estou convosco todos os dias, até
o fim do mundo” ( Mt 28, 20), prometeu Ele pouco antes de subir aos céus, donde
nos assiste e faz nascer sempre no seio da Igreja pessoas fiéis aos seus
ensinamentos e empenhadas em transmiti-los a todos.
As próprias autoridades
eclesiásticas, naturalmente, são conscientes da situação em que nos
encontramos, como atestam os inúmeros documentos magisteriais das últimas
décadas, das quais é possível citar, a título de exemplo, a Encíclica “ Divini Illius Magistri ”, de
Pio XI, e a Exortação Apostólica “E
vangelii Nuntiandi ”, de Paulo VI.
O alarmante do problema, no entanto,
parece residir no fato de que o antídoto proposto pelos Pastores para as
feridas causadas pela educação moderna não produz o efeito necessário.
Poderíamos perguntar-lhes com a mesma perplexidade dos servidores da parábola:
“Senhor, não semeaste bom trigo em teu campo? Donde vem, pois, o joio?” ( Mt 13, 27).
Ora, esse joio que se tem disseminado
pelos campos da Igreja representa, de acordo com Santo Tomás de Aquino, os católicos aparentes , isto
é, aqueles que, embora se submetam aos legítimos Pastores deixados por Cristo e
recebam os mesmos sacramentos por Ele instituídos, não possuem fé
verdadeiramente católica, seja por causa da má formação que receberam, seja por
causa do indiferentismo religioso que, sob o pretexto de um ecumenismo mal
entendido, há décadas vem envenenando a alma de um sem número de sedizentes
fiéis.
Esta soberba indiferença, um dos
muitos efeitos da ditadura do relativismo , denunciada por Bento XVI, é como um dar de ombros para o
brilhante exército de mártires que derramaram o sangue por fidelidade e amor ao
Evangelho, que é único como una é a verdade e una é a fé de Cristo. É, numa
palavra, lançar uma pá de cal sobre o projeto missionário e pedagógico da
Igreja. Tudo isto, evidentemente, deve levar-nos, não a empunhar a espada dos
juízos temerários, mas a perguntar-nos a nós mesmos, num sincero exame de
consciência, se acaso não temos mais de joio que de trigo.
Confiantes na promessa do Salvador,
que nos garantiu que estaria conosco todos os dias para fazer chegar aos povos
a sã doutrina, sacudamos o fardo do indiferentismo que o mundo moderno, tão
carente de verdade e sabedoria, tenta impor aos cristãos. Imploremos a Deus,
que nunca pede o impossível e sempre dá o sustento necessário para cumprirmos o
que nos manda, a graça de a Igreja, em seus Pastores e fiéis, recuperar o ânimo
missionário e docente que sempre a impulsionou a atravessar mares, a enfrentar
a hostilidade dos chefes das nações, a combater as falsas doutrinas e a
empreender todos os esforços para que brilhe em todos os corações a luz da
verdadeira fé.
Que a Virgem Santíssima, Mãe da
Igreja e Rainha dos mártires, auxilie a cada um de nós, também chamados a levar
às pessoas com quem vivemos e trabalhamos as palavras perenes (cf. Mt 24, 35) dAquele que é Cabeça da única
Igreja, Santa, Católica, Apostólica e Romana.
Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Júnior
Arquidiocese de Cuiabá
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