sábado, 7 de julho de 2018

ESCOLA CATÓLICA: A QUESTÃO DA QUALIDADE




A escola católica deve ser de excelência. Diz o Código de Direito Canônico (1983), o código de leis da Igreja, no artigo 806, parágrafo 2º, que os diretores das escolas católicas devem zelar para que elas ministrem um ensino científico notável e ao menos equiparado às melhores escolas da região. Portanto, os colégios católicos têm que ser ótimos, de excelente nível de ensino, de qualidade reconhecida pela sociedade. E no que consiste a qualidade da escola católica no contexto da globalização, da sociedade digital, da era da informação e do pluriculturalismo da pós-modernidade? Em tese e na prática é preciso reafirmar a sua identidade, sua filosofia e missão, deixar bem definida a sua linha e ação pedagógica, fundamentos da construção da qualidade e inspiradoras das ações que viabilizem a excelência.
A escola católica deve compreender as transformações políticas, econômicas, sociais e culturais da contemporaneidade e os seus impactos na sociedade, na educação e oferecer respostas satisfatórias para as novas demandas educacionais. Vivemos uma mudança de época, marcada pela revolução técnica científica, que atinge e transforma todas as atividades humanas, pela ampliação avassaladora das relações virtuais em detrimento das relações diretas e reais e em prejuízo do conhecimento do eu e do outro. É a conjuntura da multiplicação e saturação da informação, da competitividade selvagem do mercado, bem como da relativização dos bons valores perenes como a disciplina, a obediência e a humildade, além da contestação e transgressão da moralidade, da desconstrução das instituições tradicionais e até do próprio sujeito (do eu) pelas ideologias desumanas e perversas.  Na realidade é o tempo da ditadura do consumismo, do materialismo e do relativismo. Nestas circunstâncias é urgente e vital reafirmar com clareza a missão da escola católica de formar bons cristãos e bons cidadãos, à luz dos valores do Evangelho e dos ensinamentos da Igreja Católica, que devem, como um eixo transversal, perpassar os currículos, as didáticas, o cotidiano e todo o ambiente escolar, (re) criando uma atmosfera, uma mentalidade, uma cultura cristã de grande valor humano e civilizatório.
Urge ainda reafirmar o compromisso com a formação integral da pessoa humana, que considera todas as suas dimensões: cognitiva, afetiva, física e espiritual.
É preciso educar a inteligência, a vontade e a sensibilidade, pois o conhecimento da verdade, do bem e do belo forma pessoas sábias. É urgente educar as emoções, o afeto, o corpo, o convívio e respeito ao outro e tudo o que diz respeito à construção de interações sociais fundadas no amor do próximo, na liberdade com responsabilidade. O essencial é criar convicções sobre a transcendentalidade da vida, sobre a necessidade do bem, de praticar as virtudes e de assumir bons valores, condições indispensáveis para a transformação e criação de uma sociedade mais justa e fraterna. É o que afirma o Código de Direito Canônico:
 Devendo a verdadeira educação ter por objetivo a formação integral da pessoa humana, orientada para o seu fim último e simultaneamente para o bem comum das sociedades, as crianças e os jovens sejam de tal modo formados que possam desenvolver harmonicamente os seus dotes físicos, morais e intelectuais, adquiram um sentido mais perfeito da responsabilidade e o recto uso da liberdade, e sejam preparados para participar ativamente na vida social. (CDC – Cân. 795)

E para atingir estes objetivos a escola católica deve adotar uma pedagogia mista. É imprescindível conservar princípios e práticas pedagógicas tradicionais que deram bons resultados, mas ao mesmo tempo adotar práticas inovadoras, sem modismos, sujeições às ideologias ou às exigências da ditadura do mercado. Deve ser preservada a disciplina, o valor do conhecimento por si só, a formação das virtudes, além da ênfase na arte de pensar, na valorização da tradição (do argumento de autoridade) e na experimentação como critérios para a descoberta da verdade e da construção do conhecimento. Estas são práticas tradicionais, aliás, inspiradas na pedagogia secular desenvolvida sob os auspícios do Cristianismo e que construíram a civilização ocidental.  Ao mesmo tempo é importante modernizar, reconhecer o aluno como sujeito do seu próprio conhecimento, promover a interação qualitativa, o lúdico, o concreto, assimilar as novas tendências pedagógicas como o personalismo, o aprender a fazer e o uso adequado e crítico das novas tecnologias. É importante formar alunos pensantes, reflexivos, investigativos, criativos, éticos e autônomos.
            A gestão escolar tem um papel central na construção da qualidade da escola. É a gestão que zela pelo bom ambiente do colégio e assegura as condições materiais e organizacionais, que sistematiza as condições operacionais e pedagógico-didáticas de desempenho profissional dos professores, de modo que seus alunos tenham efetivas possibilidades de sucesso nas aprendizagens. É o gestor quem unifica, motiva e cuida da formação continuada e em serviço da equipe pedagógica e dos professores. Orienta e acompanha o desenvolvimento dos processos de construção de conhecimentos em todos os níveis de ensino. Cabe também ao gestor compreender os mecanismos e a transformação da sociedade, os seus impactos na educação e preparar a equipe para atuar frente aos novos desafios educacionais.  
Outro aspecto relevante da qualidade é a qualificação e a atuação profissional dos seus professores, que devem buscar aliar constantemente a teoria e a prática. Diz ainda o Código de Direito Canônico que os professores das escolas católicas devem primar pela reta doutrina e probidade de vida (CDC – cân. 803 parágrafo 2º). Eles precisam continuamente de um processo de formação em serviço, por meio da busca incessante pelo conhecimento, pelo estudo, através de reuniões pedagógicas, onde sejam feitas as instruções sobre os princípios e as orientações gerais da identidade da escola e também diagnósticos e levantamentos dos desafios a serem superados, bem como a atualização de práticas pedagógicas efetivas para a melhoria da qualidade.
Portanto, uma escola católica de qualidade conhece os desafios do seu tempo, tem bem definida a sua identidade, fundada nos princípios cristãos, de formar para a sabedoria, para a transcendentalidade da vida e para o exercício da cidadania com liberdade e responsabilidade. Tem uma gestão competente, democrática e participativa, uma equipe de professores motivada e qualificada, que domina sua área de atuação, a gestão da sala de aula e das relações interpessoais, que preza a leitura, o estudo e os bons valores. Tem ainda um currículo qualitativo, conteúdos bem dados e ações pedagógicas que estimulem aprendizagens significativas e acima de tudo tem o amor de Deus e do próximo, fundamentos da construção de um ambiente acolhedor, respeitoso, fraterno e solidário, onde o convívio é alegre e feliz.

                                       José Antônio de Faria
                                       Pós-graduado em História e graduado em Pedagogia

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